James Carville já é uma lenda da comunicação política americana. Este documentário, da autoria de D. A. Pennebaker e Chris Hegedus, contribuiu um pouco para essa reputação. Filmado nos bastidores da campanha presidencial de Bill Clinton em 1992, acompanha o dia a dia da "sala de guerra" da campanha, onde têm lugar as decisões de comunicação, sempre sob a pressão constante dos acontecimentos. Além de Carville, George Stephanopoulos é outra das estrelas do documentário, hoje destacado jornalista da ABC. Seguindo estes dois estrategas, desde as primárias do New Hampshire até à vitória final de Novembro, ficamos com uma visão muito aproximada de como foi possível levar Bill Clinton, um político desconhecido no inicio das primárias, até à Casa Branca.
Vários momentos comunicativos de uma campanha política são aqui observados: como responder à crise de comunicação gerada pelo episódio de Gennifer Flowers, uma estratégia de campanha negativa contra os republicanos, o brainstorming para a realização de um anúncio comercial, a elaboração de um discurso de Bill Clinton, a preparação para os debates e até a escolha das cores das placas de apoio na Convenção Nacional. A relação com os jornalistas e a comunicação com o grande público através dos meios de comunicação é uma constante. Não raras vezes, vemos Carville e Stephanopoulos a a conversarem com jornalistas, e há um pormenor delicioso, quando Carville passa uma informação para a ABC sobre um escândalo de George Bush.
James Carville é a verdadeira estrela do documentário. Irascível, apaixonado, comprometido e brilhante, é através dele que temos algumas das melhores tiradas do filme. A sua vida pessoal também é abordada, com a sua relação amorosa com Mary Matalin, na altura estratega da campanha de George Bush, a ser explorada várias vezes durante o filme. Carville representa também uma categoria muito particular, e relevante, da política americana: um consultor de comunicação que não se limita a trabalhar apenas para ganhar dinheiro. Há uma componente muito forte de comprometimento ideológico e pessoal nestas campanhas. Não digo que sejam todos. Mas a ideia que tenho, e essa é uma vantagem dos profissionais de comunicação política nos Estados Unidos, é que trabalhar para um político não é a exactamente a mesma coisa do que trabalhar para um vendedor de sabonetes. E por isso existem os consultores democratas e republicanos, e que raramente atravessam as linhas partidárias. Estes consultores "vendem" ideias e políticos; mas fazem-no com políticos em que acreditam.
Um filme que aconselho a apaixonados do política americana, mas também a todos que se interessam pela comunicação. Como nota final, resta referir que foi nomeado para o Óscar de melhor documentário em 1994.