Esta e as próximas semanas deverão ser em grande parte ocupadas pela discussão do Orçamento para 2012. Não querendo entrar em considerações técnicas, até porque me faltam conhecimentos para tal, parece-me que Obama está, mais uma vez, a jogar num perigoso tabuleiro. As reacções que tenho lido, à esquerda e à direita, são as mesmas: Obama não lidera. A esquerda critica aquilo que considera uma traição às suas promessas "liberais", com cortes em alguns programas federais que eles sustentam serem primordiais. A direita permanece insatisfeita porque queria mais cortes, e principalmente, porque este novo plano prevê um aumento de impostos para 2013. Mas na verdade há uma coisa que todos sabem: este orçamento de Obama não resolve nada dos problemas estruturais da economia americana. E até faz mais: propõe um aumento da despesa em muitas rubricas que têm a forte oposição republicana, como na regulação ou na construção de infraestruturas. Como tem de negociar com os republicanos para ter alguma coisa aprovada, ele sabe que esta proposta de Orçamento está morta à nascença.
Ambos os partidos sabem que será preciso tocar nestes sectores: segurança social, os onerosos programas de saúde e os gastos com a defesa. Por outro lado, os republicanos, além de algumas vozes quixotescas dentro do Partido, também parecem ter receio em falar primeiro. Para equilibrar as contas públicas será preciso fazer duros cortes nos gastos com a saúde, a segurança social e com a defesa. Ou aumentar os impostos. Este é o jogo do gato e do rato que republicanos e democratas andam a fazer. Os republicanos não querem aumentar os impostos, e propõem cortar mais despesas do que Obama, mas também não resolvem nada de estrutural. Será preciso alguém chegar-se à frente e propor medidas corajosas. Paul Ryan (o terceiro na foto), congressista do Wisconsin e líder da Comissão do Orçamento da Câmara dos Representantes, será uma uma voz importante neste debate, ele que tem defendido alguns desses cortes radicais na despesa. Sem isto, nada feito. Mitch Daniels, o governador do Indiana e potencial candidato à nomeação republicana, num vigoroso discurso este fim de semana, defendeu que o défice é a nova ameaça vermelha á Segurança Nacional dos Estados Unidos. É bom que ambos os partidos negoceiem e cheguem a um acordo.
Adenda: acabo de escrever este artigo e leio este tweet de Stephen Hayes, da Weekly Standard: "Big news: House GOP leadership goes all in w/Paul Ryan, will include entitlement reform in budget.". Isto quer dizer que o GOP vai mesmo propor uma reforma nos programas estruturais. Era a única solução que tinham, sob pena de perderem credibilidade. Vamos ver o que propôem.