Os leitores do blogue já terão percebido que este autor é um grande admirador de Ronald Reagan. Dutch, a sua alcunha deste os tempos de juventude, não foi um político qualquer. Mas sua importância não se resume ao papel de líder da revolução Reagan, como ficou conhecido o período em que liderou os Estados Unidos. Nem sequer aos seus sucessos na política externa, onde, muitas vezes contra os seus próprios conselheiros, liderou a ofensiva, diplomática e retórica, contra a da União Soviética. O principal legado de Reagan é precisamente ter alcançado grandes feitos sem nunca mostrar um dogmatismo, tão em voga nos dias de hoje no mundo da política. Nem sempre obteve o que desejava. O congresso era dominado pelo Partido Democrata, e tudo o que conquistou foi através de acordos com os adversários. Com Reagan seria impossível terem existido aprovações de pacotes legislativos sem o apoio de alguns adversários. Pela sua forma de agir, nem acredito que ele pretendesse isso, mesmo que fosse possível. As suas vitórias, especialmente a avalanche de 1984 contra Walter Mondale, onde apenas perdeu DC e o Minnesota, não seriam possíveis sem a sua capacidade de atrair adversários políticos para as suas causas. Foi um Presidente ideológico, disso não se duvide. Mas também sabia ouvir terceiros e ceder. Às vezes aprovar coisas que discordava. Os seus escritos são disso evidência. Reagan costumava dizer que se não se consegue obter cem por cento do que se deseja, então que se ganhe alguma coisa. Foram assim as suas negociações com os Democratas e com os Soviéticos.
Não por acaso, hoje muitos evocam o seu nome. Os republicanos, por tudo o que representa para o movimento conservador, mas também muitos democratas, que vêm nele um exemplo de um líder. Ainda há poucas semanas dava conta da campanha em marcha para comparar Obama com Reagan. Mas ambos os lados têm muito a aprender. A começar por muitos conservadores, que não se cansam de o citar, mas que com as suas acções, o desprestigiam. Liderou um período de regeneração do Partido Republicano, sem dúvida encostando o partido à direita. Mas Reagan nunca foi dogmático, e era um acérrimo defensor da Big Tent, onde todos tinham lugar. Com ele não havia caça às bruxas dentro do Partido e todos eram necessários para vencer. Por outro lado, é preciso relembrar um aspecto: também Reagan, em diversos períodos da sua Presidência, foi alvo de alguns enraivecidos conservadores. Negociou, cedeu e venceu. Alguns da actualidade apenas querem vencer, sem passar pelas duas fases anteriores. Mas os Democratas, a começar por Obama, também devem olhar para Reagan como uma fonte de inspiração. Barack Obama foi eleito numa aura de união, que talvez não tivesse paralelo desde 1980. Mas os seus primeiros dois anos foram uma desilusão. Ao contrário de Reagan, Obama é hoje um foco de divisão do povo americano, em virtude do formato de liderança que escolheu: nós contra eles. Felizmente para Obama, ainda falta muito tempo para a campanha de reeleição, e pode mudar de curso. O seu comportamento após as eleições intercalares deram precisamente sinais disso.
Ronald Reagan é hoje considerado um dos grandes presidentes da história americana. Como Edmund Morris disse esta semana, nada mau para quem foi tão mal tratado pela imprensa e tantas vezes apelidado como um “pateta simpático”. “Só” teve sucesso nas seis actividades profissionais que desenvolveu: locutor de desporto de rádio, actor, presidente do sindicato de actores, porta voz da General Electric, governador da Califórnia durante dois mandatos e Presidente dos Estados Unidos durante oito anos. Pelo meio, foi decisivo para mudar o Partido Republicano, os Estados Unidos e o Mundo. Nada mau mesmo.