A Administração Obama, num momento de fragilidade, foi apanhada de surpresa pelos acontecimentos no Egipto. Só assim se pode compreender as declarações dos primeiros dias das manifestações, com Hillary Clinton a considerar o Egipto estável e Joe Biden a dizer que não se podia chamar a Hosni Mubarak um ditador. Mas é verdade que soube corrigir o tiro inicial, a partir do momento em que Barack Obama se pronunciou pela primeira vez sobre o assunto. Por muita retórica que possa existir, acredito que o tom de Washington sobre o Egipto não seria diferente com outro Presidente. Mas nem por isso o futuro do Egipto deixa de estar relacionado com a forma como Obama será avaliado pelos americanos em 2012.
Há duas componentes da diplomacia americana: o que se diz publicamente e o que se faz nos bastidores. Até ao momento, parece evidente que os Estados Unidos olham já para o futuro do Egipto pós-Mubarak. Se por um lado, os americanos colocam-se ao lado das forças democráticas que se manifestam nas ruas do Cairo, por outro, nos bastidores, as acções perante o exército egípcio que estarão a ser conduzidas têm dois objectivos claros: facilitar uma transição pacífica sem um banho de sangue, e por outro, criar as condições necessárias para impedir que a Irmandade Islâmica assuma os destinos da revolução. Dificilmente os Estados Unidos terão num futuro governo um aliado tão seguro como o actual regime. Isso é passado. No entanto, as excelentes relações que têm com o exército podem produzir frutos. É pouco credível que uma organização que defende a introdução da Sharia, a perseguição aos cristãos e às mulheres e que pretende rasgar o acordo de paz com Israel, possa ser aceitável para o Estados Unidos. Isso seria cometer o mesmo erro de 1979, quando muitos acreditaram que os islâmicos de Khomeini poderiam ser uma força aceitável dentro do jogo democrático. E é neste tabuleiro perigoso que os americanos jogam. Se o Egipto cair nas mãos de extremistas islâmicos, Obama ficará numa posição muito frágil. No Verão de 2012, quando a campanha de reeleição estiver no auge, a situação do Egipto não deixará influenciar a ordem do dia. E é nisso que Obama também deve estar a equacionar.