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Jan 11
publicado por Nuno Gouveia, às 21:06link do post | comentar

O José Gomes André analisou aqui os primeiros dois anos de Barack Obama. Não tenho nada a acrescentar à sua excelente exposição. Mas que Obama teremos nestes próximos dois anos?

Após a derrota do Partido Democrata nas eleições intercalares, muito se questionou sobre a actuação de Obama no futuro. Após dois meses penso que já temos uma ideia concreta. A contratação de Bill Daley para Chefe de Gabinete* parece indicar que irá moderar a actuação da Casa Branca. Digo parece, pois já quando convidou Rahm Emanuel o mesmo foi dito. Mas acredito que irá haver uma verdadeira aproximação ao centro, muito ao estilo de Bill Clinton depois de 1994. Se é convicta ou oportunista, também não tenho grande ilusões: Obama quer ser reeleito. A sua linha orientadora dos próximos dois anos será a vitória nas eleições presidenciais de 2012.

Os seus estrategas, que melhor do que ninguém sabem analisar este tipo de situações, olharam os números e verificaram uma coisa: é preciso recuperar o apoio dos independentes. E nem é preciso dar grande atenção à esquerda, pois esta não terá outra alternativa do que apoiar e mobilizar-se para derrotar o candidato do GOP.  A agenda ideológica deste primeiro mandato está concretizada, portanto é preciso recuperar os eleitores, entretanto desiludidos, para conseguir um segundo. E depois fazer o restante. E como chegar até lá nestes dois próximos anos?

Obama tem tentado criar uma imagem percebeu a mensagem e irá adoptar politicas mais centristas. O acordo para a permanência dos Bush Tax Cuts, a contratação de Bill Daley, a suavização da mensagem “liberal” no seu discurso ou o tom mais conciliador, são alguns dos sinais que recebemos nos últimos meses. A excelente resposta ao massacre de Tucson também segue o mesmo tom dos últimos meses. Infelizmente para ele, o sucesso desta estratégia não depende somente dele. Os republicanos, agora em maioria na Câmara dos Representantes, também são detentores de Poder. Sabendo que dificilmente poderão aprovar alguma coisa sem o beneplácito de Obama (a maioria no Senado assim o determina), os republicanos precisam de mostrar trabalho, sem que isso seja apresentado ao povo americano como uma vitória de Obama. Um equilíbrio difícil, como vimos nos últimos dois meses do ano. A luta política, que em breve irá deslocar-se para a campanha das primárias republicanas, também passará por estas negociações em Washington. Obama irá apresentar-se como um centrista e um político conciliador, muito ao estilo da campanha de 2008. Os republicanos tentarão desenvolver uma agenda de resultados, mas sem grandes concessões aos democratas, tentando ao mesmo tempo fugir à ideia do partido obstrucionista.

Não será tarefa fácil para os dois lados, mas o cenário, para mim, apresenta-se mais favorável para Obama. A falta de um candidato forte do lado republicano, juntamente com o abandono de um discurso mais ideológico por parte de Obama, podem transformar as presidenciais de 2012 bem mais fáceis para o incumbente. Mas devido ao nível do desemprego e da economia, é muito cedo para fazer tal prognóstico. Serão dois anos muito animados, certamente.

*esta tradução literal não me satisfaz, pois é muito mais do que isso, funcionando como um verdadeiro número dois da Admnistração


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Realmente não há tradução satisfatória para o lugar de White House Chief of Staff: Chefe de Gabinete, Chefe de Pessoal (a pior), nenhuma delas dá a ideia concreta do poder efectivo desta personagem, genericamente falando. O WH Chief of Staff é quase que uma espécie de primeiro-ministro, é um coordenador da actividade executiva e é através dele que se pode aceder ao presidente. (motivo por que o lugar é por vezes conhecido por "The Gatekeeper ").

O cargo foi criado (com esse nome) pelo Presidente Eisenhower em 1953.

Por vezes vêm a tornar-se pesos (ainda mais) pesados na política americana, casos de dois Chiefs of Staff de Gerald Ford: Dick Cheney e Donald Rumsfeld .

Quanto a Obama e a sua estratégia para 2012, muito vai depender da evolução da economia, principalmente do desemprego. E uma coisa é uma viragem ao centro protagonizada por um centrista (caso de Bill Clinton ), outra bem diferente uma protagonizada por um liberal.
Alexandre Burmester a 21 de Janeiro de 2011 às 00:08

E ainda James Baker ou Leon Panneta, o actual director da CIA. É de facto um cargo que só terá mesmo paralelo com o Primeiro-ministro numa República do estilo francesa.

Em relação a Obama:

Concordo com o facto de ele não ser um centrista como Clinton. Mas devo dizer que ele neste período da lame duck parece ter apanhado os republicanos de surpresa, o que se reflectiu nas sondagens que saíram, ainda antes de Tucson.
Nuno Gouveia a 21 de Janeiro de 2011 às 00:44

Desculpe lá mas isto
« podem transformar as presidenciais de 2012 bem mais fáceis para o incumbente.»
parece uma má tradução.
transformar mais fáceis? Incumbente?
"Tornar" e "presidente em exercício"
Incumbente, ao que sei, não existe em português com o sentido em que é usado nos USA.
BST a 21 de Janeiro de 2011 às 15:32

Costumo utilizar a palavra incumbente, mas nunca fui a um dicionário verificar se o significado é o mesmo. Em relação ao transformar as presidenciais, pode não ser a minha melhor frase que já tenha utilizado, mas não me parece incorrecta. No sentido em que muitos consideram as presidenciais nesta altura muito difíceis para Obama, e desse modo, podem transformar-se em eleições mais fáceis.
Nuno Gouveia a 21 de Janeiro de 2011 às 16:58

Transformar é um verbo transitivo directo, precisa de uma preposição depois. «Transformar (...) bem mais fácil» não pode ser. Pode usar tornar.

Investiguei e incumbente não existe em português com o sentido que lhe dá, frequente nos USA. Aqui seria "em exercício" em funções". Se quer uma expressão mais próxima dessa creio que daria mais incumbido do que incumbente... Repare que incumbente aqui seria aquele que incumbe outrém.
Parabéns pelo ano de blog.
BST a 22 de Janeiro de 2011 às 04:59

Obrigado pela parte que me toca :)

Eu por acaso gosto de "Chefe de Gabinete", desde que se perceba "gabinete" na acepção alargada do termo. Caso contrário parece que falamos de uma mera assessoria quando é muito mais que isso...

Abraço!
José Gomes André a 21 de Janeiro de 2011 às 23:22

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