O José Gomes André analisou aqui os primeiros dois anos de Barack Obama. Não tenho nada a acrescentar à sua excelente exposição. Mas que Obama teremos nestes próximos dois anos?
Após a derrota do Partido Democrata nas eleições intercalares, muito se questionou sobre a actuação de Obama no futuro. Após dois meses penso que já temos uma ideia concreta. A contratação de Bill Daley para Chefe de Gabinete* parece indicar que irá moderar a actuação da Casa Branca. Digo parece, pois já quando convidou Rahm Emanuel o mesmo foi dito. Mas acredito que irá haver uma verdadeira aproximação ao centro, muito ao estilo de Bill Clinton depois de 1994. Se é convicta ou oportunista, também não tenho grande ilusões: Obama quer ser reeleito. A sua linha orientadora dos próximos dois anos será a vitória nas eleições presidenciais de 2012.
Os seus estrategas, que melhor do que ninguém sabem analisar este tipo de situações, olharam os números e verificaram uma coisa: é preciso recuperar o apoio dos independentes. E nem é preciso dar grande atenção à esquerda, pois esta não terá outra alternativa do que apoiar e mobilizar-se para derrotar o candidato do GOP. A agenda ideológica deste primeiro mandato está concretizada, portanto é preciso recuperar os eleitores, entretanto desiludidos, para conseguir um segundo. E depois fazer o restante. E como chegar até lá nestes dois próximos anos?
Obama tem tentado criar uma imagem percebeu a mensagem e irá adoptar politicas mais centristas. O acordo para a permanência dos Bush Tax Cuts, a contratação de Bill Daley, a suavização da mensagem “liberal” no seu discurso ou o tom mais conciliador, são alguns dos sinais que recebemos nos últimos meses. A excelente resposta ao massacre de Tucson também segue o mesmo tom dos últimos meses. Infelizmente para ele, o sucesso desta estratégia não depende somente dele. Os republicanos, agora em maioria na Câmara dos Representantes, também são detentores de Poder. Sabendo que dificilmente poderão aprovar alguma coisa sem o beneplácito de Obama (a maioria no Senado assim o determina), os republicanos precisam de mostrar trabalho, sem que isso seja apresentado ao povo americano como uma vitória de Obama. Um equilíbrio difícil, como vimos nos últimos dois meses do ano. A luta política, que em breve irá deslocar-se para a campanha das primárias republicanas, também passará por estas negociações em Washington. Obama irá apresentar-se como um centrista e um político conciliador, muito ao estilo da campanha de 2008. Os republicanos tentarão desenvolver uma agenda de resultados, mas sem grandes concessões aos democratas, tentando ao mesmo tempo fugir à ideia do partido obstrucionista.
Não será tarefa fácil para os dois lados, mas o cenário, para mim, apresenta-se mais favorável para Obama. A falta de um candidato forte do lado republicano, juntamente com o abandono de um discurso mais ideológico por parte de Obama, podem transformar as presidenciais de 2012 bem mais fáceis para o incumbente. Mas devido ao nível do desemprego e da economia, é muito cedo para fazer tal prognóstico. Serão dois anos muito animados, certamente.
*esta tradução literal não me satisfaz, pois é muito mais do que isso, funcionando como um verdadeiro número dois da Admnistração