10
Nov 12
publicado por José Gomes André, às 00:23link do post | comentar | ver comentários (8)

1. Obama venceu com margem confortável no Colégio Eleitoral (332-206) e com ligeira vantagem no voto popular (cerca de 3%). Dois factores contribuíram decisivamente para a vitória. Primeiro, uma extraordinária mobilização do eleitorado Democrata que, mesmo desiludido, acorreu às urnas em proporção praticamente idêntica a 2008: jovens, mulheres e minorias étnicas foram autenticamente "empurrados" pela máquina Democrata. Uma boa organização no terreno é hoje cada vez mais indispensável e os estrategas Democratas só podem estar de parabéns. Em segundo lugar, a campanha acertou em cheio na mensagem: ao mesmo tempo que justificava as insuficiências do primeiro mandato (ligando-o à excepcionalidade da crise económica e financeira mundial), Obama conseguiu projectar uma imagem de futuro, centrando-se mais nos "próximos 4 anos" do que numa defesa do seu mandato. Excelente decisão.

 

2. A América está a mudar. Se 2008 tinha sido uma eleição histórica, pela eleição de um negro para a Presidência, 2012 não lhe fica atrás, trazendo a primeira lésbica assumida para o Senado (Tammy Baldwin), votações favoráveis ao casamento homossexual em quatro Estados e a legalização da marijuana para efeitos recreativos (!) no Colorado e em Washington. O eleitorado urbano e liberal está em crescimento, a diversidade étnica é cada vez maior e os "valores tradicionais" parecem estar a diminuir em importância e em influência geográfica. Que não se assustem os mais conservadores: os EUA sempre tiveram uma enorme capacidade para se reinventarem, preservando ao mesmo tempo os seus princípios fundamentais.

 

3. Por falar em reinvenção, o Partido Republicano necessita de se reorganizar, tornando-se apelativo para novos segmentos essenciais do eleitorado (o caso mais óbvio são os hispânicos). A ala radical do Partido, mesmo sendo minoritária, tem contaminado o núcleo do GOP com uma ideologia sectária e ultra-conservadora, que entusiasma a base, mas não ganha eleições. O discurso anti-ciência, a confusão sistemática de religião e política, o radicalismo no tema do aborto e a xenofobia latente têm ganho protagonismo entre os Republicanos, mas são amplamente rejeitados pelo eleitorado. O "establishment" necessita de se distanciar destes sectores radicais, sob pena da "marca Republicana" se tornar tóxica num futuro próximo.

 

4. São variados os desafios que esperam Obama. Crise económica, reforma da saúde, ambiente, nova política energética - a nível interno. Instabilidade no Médio Oriente, relações difíceis com a Rússia e a China, a contenção do Irão - a nível internacional. São temas complexos, que, na maioria dos casos, o Presidente terá de negociar com uma Câmara dos Representantes dominada pelos Republicanos. A tarefa mais dura? Lidar com o maior desafio que assola o Ocidente: preservar a estrutura fundamental do "Estado Social", num quadro económico e demográfico mundial que não permite aos países desenvolvidos manter os mesmos níveis de despesa pública até aqui praticados.

 

5. Um dos maiores vencedores deste processo eleitoral foi a abordagem científica ao fenómeno político. Os estudos econométricos e as sondagens (e os agregadores de sondagens) retrataram com grande fidelidade a evolução e o desfecho da corrida, pese embora terem sido continuamente desvalorizados pelos "opinion-makers". Estes (como Dick Morris ou George Will) preferiram basear-se em "feelings" e bitaites infundados (o termo português é "lançar postas de pescada"), mas saíram completamente derrotados face ao rigor e à objectividade do esforço de Nate Silver e Sam Wang, entre outros. Tenho a secreta esperança de que, mais tarde ou mais cedo, os "tudólogos" serão dispensados pela opinião pública e pela própria comunicação social, e substituídos por gente menos mediática, mas seguramente muito mais séria e informada.


07
Nov 12
publicado por Nuno Gouveia, às 23:07link do post | comentar

Último hangout Combate de Blogs sobre estas eleições, moderado pelo Filipe Caetano e com a presença do Carlos Manuel Castro e o João Luís. Tenho que referir que foi um prazer participar nesta iniciativa promovida pelo Filipe Caetano e pela TVI24, bem como debater de forma saudável e interessante com todos os participantes, nomeadamente o José Gomes André, o Germano Almeida, o Filipe Ferreira, além dos já citados. 


publicado por Nuno Gouveia, às 12:05link do post | comentar | ver comentários (4)

 

Haverá tempo para analisar com mais calma a forma como Obama foi reeleito, mas desde já ficam aqui algumas notas. Uma vitória presidencial entra no imediato para os livros da história americana. Mas esta reeleição irá certamente conquistar um lugar especial: pela capacidade organizativa da máquina de campanha, pela dimensão da vantagem que obteve, mas também por alguns recordes que bateu de algumas décadas, como ter sido reeleito com menor vantagem do que na primeira eleição ou o facto de ter ultrapassado a taxa de desemprego mais elevada desde os anos 30. A vitória de Obama acabou por ser mais simples do que era expectável. Se no voto popular, vence por 2%, no colégio eleitoral acaba com uma confortável vantagem de 332-206. A mobilização em redor do Presidente foi impressionante, e a sua coligação eleitoral de minorias, jovens e mulheres aguentou-se de uma forma fantástica. David Axelrod e David Plouffe já lá tinham garantido um lugar, mas depois desta vitória entram directamente para o topo dos grandes consultores políticos da história política americana. Barack Obama é reeleito depois de um mandato muito complicado, onde a sua popularidade nem sempre esteve acima da linha de água. Apesar de ter enfrentado uma dura batalha com os republicanos durante quatro anos, que incluiu uma severa derrota nas intercalares, acabou por ser reeleito com relativa facilidade, conseguindo com isso alargar também a maioria no Senado (uma das surpresas da noite). Obama acaba o ciclo eleitoral com a legitimidade reforçada pelo povo americano, e adquire margem de manobra para implementar as reformas prometidas. E, talvez mais importante, valida o que fez no primeiro mandato, como a reforma da saúde, que agora será implementada a partir do próximo ano. Veremos se neste mandato irá conseguir trabalhar com os republicanos, que saem desta eleição muito enfraquecidos, apesar de manterem a maioria confortável na Câmara dos Representantes. 


06
Nov 12
publicado por Nuno Gouveia, às 18:46link do post | comentar | ver comentários (3)

Horários de encerramento das urnas e algumas notas:


0h00: Geórgia, Indiana, Kentucky, Carolina do Sul, Vermont e Virginia.


Virginia deverá se declarado toss up. Se houver indicações que Romney está a perder neste estado, a noite eleitoral poderá ser curta. 

 

0h30: Carolina do Norte, Ohio, West Virginia

 

Os primeiros dois estados deverão ser considerados toss up. Mas Romney precisa rapidamente de "fechar" a Carolina do Norte e apresentar-se com sérias hipóteses de vencer no Ohio. 

 

1h00: Alabama, Mississippi, Missouri, Oklahoma, Tennessee, Connecticut, Delaware, DC, Illinois, Maine,New Jersey, Massachussetts, Maryland, Rhode Island, Florida, New Hampshire, Pensilvânia. 

 

Uma vitória cedo de Obama na Pensilvânia será um sinal que Romney fez bluff em competir lá. De resto, precisa de bons sinais na Florida e New Hampshire.

 

1h30: Arkansas 


2h00: Arizona, Kansas, Lousiana, Nebraska, Dakota do Norte, Dakota do Sul, Wyoming, Texas, Novo México, Nova Iorque, Colorado, Michigan, Minnesota, Wisconsin. 


Os últimos quatro estados são decisivos para Romney. Precisa de vencer no Colorado quase obrigatoriamente e tentar uma surpresa no Wisconsin. Para Obama será mau sinal se perder nos improváveis Michigan e Minnesota. Por volta desta hora talvez já haja novidades do Ohio e Virginia, significando que as eleições podem estar decididas. 

 

3h00: Montana, Utah, Nevada, Iowa


Se a esta hora ainda houver grande indefinição no resultado das eleições, Obama irá necessitar de triunfar no Nevada, como é amplamente esperado, e no Iowa. 


4h00: Califórnia, Hawaii, Oregon, Washington, Idaho

 

6:00: Alasca



publicado por José Gomes André, às 16:33link do post | comentar | ver comentários (13)


Embora seja expectável uma corrida muito renhida, sobretudo no voto popular, estou em crer que Obama acabará por ganhar no Colégio Eleitoral, por uma margem curta. As últimas sondagens penderam para o seu lado e os "mercados electrónicos" também apostam no actual Presidente. Resta saber se não estará a ser subestimada a afluência Republicana em alguns Estados-chave...

As minhas maiores dúvidas prendem-se com a Virgínia e o Colorado, que nesta fase estão em "empate" absoluto. Podem cair para qualquer lado, mas aposto que os subúrbios de Washington acabem por dar a vitória a Obama. Em sentido inverso, os "social conservatives" deverão garantir um triunfo marginal de Romney no Colorado. Não ficaria todavia surpreendido se o resultado final for Obama 303 (Virgínia + Colorado), Obama 281 (nem um nem outro) ou Obama 290 (só Colorado e não Virgínia). Em qualquer caso, o actual Presidente seria sempre reeleito.

No Senado é muito mais difícil fazer previsões, mas espero que os Democratas mantenham a maioria, ficando porventura com 51 a 53 senadores (contando os independentes). A Câmara dos Representantes vai seguramente continuar sob domínio Republicano.

publicado por Nuno Gouveia, às 08:45link do post | comentar | ver comentários (9)

 

O futuro político destes dois homens decide-se esta terça-feira. Ambos já fazem parte da história americana. Barack Obama, que teve uma das mais meteóricas ascensões na política americana, depois de ter passado apenas sete anos no senado estadual do Illinois e quatro anos no Senado em Washington, foi eleito o primeiro negro Presidente dos Estados Unidos. Só isso já lhe assegurou um lugar na história. Mas o seu legado como Presidente irá ser necessariamente marcado pelo resultado que tiver nestas eleições. Se perder, será um novo Jimmy Carter, um Presidente que não conseguiu ser reeleito e recordado como um fracasso. Se vencer, terá tempo para cumprir algumas das promessas e deixar uma imagem positiva da sua governação. Muito do que se disser do seu legado será ditado pela reeleição ou não. Fez uma campanha eficaz, apostou em motivar a sua base eleitoral e, ao mesmo tempo, tentou desqualificar Mitt Romney. Se na primeira parte parece ter sido relativamente bem sucedido, na segunda, teve menos sucesso. Logo veremos se a afluência às urnas dos eleitores democratas será suficiente para estancar a previsível subida entre o eleitorado republicanos e os ganhos de Romney entre os independentes. Uma coisa é certa: ganhe ou perca, não parou de lutar. 

 

Mitt Romney com um longo percurso empresarial de sucesso, herói dos Jogos Olímpicos de Inverno de Salt Lake City, governador do Massachusetts e pela segunda vez candidato presidencial, pode estar no último dia da sua carreira política ou a iniciar o último percurso, o mais importante da sua vida. Como quase sempre sucede nos Estados Unidos, os candidatos presidenciais derrotados asseguram um lugar nos livros de história, mas presumo que Romney não fique satisfeito se juntar-se a nomes como John McCain, Bob Dole, Al Gore ou Michael Dukakis, só para recordar os últimos derrotados. Se vencer, poderá colocar em prática a sua experiência para recuperar a economia americana, como tem prometido, e assumir-se como o 45º Presidente, o primeiro mórmon. Mas Romney já conseguiu uma coisa: depois das tímidas imagens deixadas por Jonh Kerry em 2004 e Michael Dukakis em 1988, um político do Massachusetts voltou a realizar uma boa campanha presidencial. Se isso chegará para imitar outro conterrâneo do estado, o 35º Presidente, é algo que saberemos em breve. Esta terça-feira estará em Cleveland no Ohio e em Pittsburgh na Pensilvânia. A imitar Obama em 2008, quando no dia das eleições fez campanha no Indiana. E ganhou lá, constituindo a maior surpresa desse ano. Romney, tal como Obama, também não desistiu de lutar pela vitória.  Penso que ambos fizeram o que tinham que fazer para ganhar. Veremos agora o veredicto do povo americano. Porque só esse conta.


05
Nov 12
publicado por José Gomes André, às 15:30link do post | comentar | ver comentários (2)

Apesar da importância do Ohio, há outros Estados que poderão vir a desempenhar um papel muito relevante, com destaque para a Florida, Virgínia e ColoradoTodos eles foram ganhos por Bush em 2000 e 2004, e por Obama em 2008 - o que desde logo atesta a sua importância como "Estados-barómetro".


Florida (29 Votos Eleitorais) é o Estado sulista mais ecléctico, onde os Democratas têm uma base de apoio forte, sobretudo na região de Palm Beach (no Sudeste do Estado). Os eleitores mais idosos e os hispânicos de origem cubana são usualmente fiéis aos Republicanos. A Florida foi ganha pelos Republicanos em 6 das últimas 8 eleições presidenciais; uma derrota de Romney neste importante Estado (o terceiro mais valioso no Colégio Eleitoral, a par de Nova Iorque) torna absolutamente inviável uma vitória geral na eleição. Média das sondagens recentes (RCP): Romney lidera por 1,8%.

Virgínia (13 Votos Eleitorais) foi durantes décadas um bastião Republicano. Porém, o crescimento exponencial dos subúrbios de Washington (D.C.) trouxe novos residentes para o norte da Virgínia, com preferências eleitorais fortemente Democratas. Este facto, aliado à existência de uma grande comunidade afro-americana, permitiu a Obama ganhar a Virgínia em 2008. Se o Ohio cair para Romney, a Virgínia torna-se fundamental para o "Plano B" de Obama. Há também neste Estado uma renhida disputa entre o Republicano George Allen e o Democrata Tim Kaine, para o Senado. No que diz respeito à questão presidencial, média das sondagens recentesObama lidera por 0,3%.


Colorado (9 VE) está praticamente na mesma categoria que a Virgínia. Tendencialmente Republicano (desde 1964 só votou Democrata em 1992 e 2008), tem a favor dos Democratas o crescimento de Denver, cuja área metropolitana – socialmente progressista – agrega metade da população total do Estado. Além do mais, os habitantes do Colorado valorizam especialmente a protecção ambiental (um trunfo de Obama). Todavia, o Estado é caracterizado pela força da tradição libertária (típica no Oeste), que desconfia do governo federal (estando por isso mais próxima da ideologia Republicana), tendo além disso uma grande porção de "social conservatives", especialmente na região de Colorado Springs. Se o Oeste e o Midwest não decidirem a eleição, as atenções virar-se-ão necessariamente para o Colorado. Média das sondagens recentesObama lidera por 0,6%.


publicado por Nuno Gouveia, às 13:40link do post | comentar | ver comentários (3)

A segmentação do eleitorado americano por parte das campanhas é uma realidade, bem diferente do que estamos habituados a observar em Portugal. Não se pode considerar que os blocos sejam todos homogéneos (a excepção é o eleitor afro-americano), mas as campanhas investem forte em capturar o voto destes grupos demográficos. Haverá muitos mais, mas deixo aqui alguns que poderão ser extremamente relevantes para o desfecho das eleições de amanhã.

 

Hispânicos: Representam cerca de 14% dos cidadãos americanos, mas a sua participação eleitoral é historicamente baixa. Em 2010 representaram apenas 7% dos votantes, tal como em 2008. Em 2008 votaram Obama numa relação de 61-31. Se Obama conseguir manter estes números ou até melhorar, como algumas sondagens têm indicado, isso poderá ser estaticamente importante em três swing-states: Nevada, Colorado e Florida. Com o Nevada a pender para o lado de Obama e a Florida para o Romney, diria que é no Colorado que poderão fazer a diferença. Em corridas muito renhidas, como no Ohio, onde representam apenas 4% da população, poderão também ajudar a decidir. De resto, nos estados com populações hispânicas mais significativas, o desfecho está encontrado: Texas e Arizona para Romney, Illinois, Califórnia e Nova Iorque para Obama. 

 

Negros: Obama precisará de uma votação recorde semelhante ao que teve em 2008, com cerca de 95% para segurar a Carolina do Norte e Virgínia. Penso que neste segmento do eleitorado não deverá haver grandes mudanças, mas talvez seja insuficiente para vencer nestes estados. Mas uma afluência idêntica à de 2008 poderá ajudar no Ohio, Michigan ou Pensilvânia, onde representam mais de 10% da população.

 

Brancos: o eleitorado branco votou John McCain em 2008, numa ordem de 55%-43%. Romney precisará de fazer muito melhor. Algumas sondagens indicam que Obama poderá ficar-se pelos 37% e Romney com mais de 60%, o que seria um excelente número para Romney. A grande dúvida aqui é se os brancos irão manter os 76% que representaram em 2008 (dados da Gallup) ou se esse número vai baixar. Pode residir aqui a derrota ou vitória de um dos candidatos. 

 

Mulheres: Tem-se falado muito da gendergap, mas é tradicional os republicanos vencerem no eleitorado masculino e os democratas vencem no feminino. Por exemplo, desde Ronald Reagan que os republicanos perdem no eleitorado feminino. Em 2004 Bush venceu nos homens por 11% e perdeu por 10% nas mulheres. Há quatro anos Obama conseguiu mesmo vencer no eleitorado masculino por 1 por cento e nas mulheres por 13 por cento. Será interessante verificar se Romney conseguiu aproximar os números, e “perder por poucos” entre as mulheres, já que é amplamente esperado que vença no eleitorado masculino.

 

Judeus: Romney terá encurtado a distância para este segmento do eleitorado, que vota tradicionalmente nos democratas. Em 2008 Obama teve 76% dos votos dos judeus, enquanto John Mccain ficou-se pelos 24%. Pensa-se que Romney terá mais votos, até pela decepção que Obama criou em alguns judeus. Um resultado à volta dos 35% seria excelente para Romney, e que o poderia ajudar sobretudo na Florida.

 

Católicos: Nos últimos três eleições presidenciais representaram cerca de 25% do eleitorado, e tem havido um certo equilíbrio entre os dois partidos. Em 2000 votaram Gore contra Bush (50-47), em 2004 ajudaram a reeleger Bush (52-47). Em 2008 Obama teve 54% contra 45% de Mccain. Este voto será particularmente decisivo no Midwest. Ambos os candidatos a Vice Presidente são católicos.  



04
Nov 12
publicado por José Gomes André, às 15:39link do post | comentar | ver comentários (1)

É bastante improvável que o resultado eleitoral norte-americano tenha um impacto directo significativo na política europeia. Desde o fim da Guerra Fria que a Europa perdeu importância na agenda americana, em detrimento de regiões mais problemáticas (como o Médio Oriente) ou estrategicamente mais promissoras (o eixo Ásia Oriental-Pacífico). Este realinhamento político decorre de dois factores fundamentais. Por um lado, a pacificação do teatro europeu e a consolidação da União Europeia estabilizaram o Velho Continente, tornando “dispensável” a supervisão e o envolvimento americano (salvo raras excepções). Por outro lado, a emergência de novas potências (China, Índia, etc.) mereceu especial atenção do gigante americano, interessado em conquistar novos mercados, mas também em interagir politicamente com potenciais ameaças num quadro internacional que os EUA têm dominado nas últimas duas décadas.

 

A crise económica que abalou os alicerces da própria UE poderia alterar este quadro. Devido à importância das transacções comerciais e financeiras transatlânticas, os EUA foram obrigados a acompanhar atentamente os eventos europeus. Porém, estando também a contas com graves problemas económicos (crescimento tépido, desemprego e défice elevados, dívida descontrolada), os EUA não têm demonstrado nem disponibilidade política, nem tampouco possuir boas ideias para solucionar esta prolongada crise. Sem surpresa, as questões europeias têm portanto sido um tema ausente na campanha, não merecendo um único minuto no terceiro debate (sobre política externa) ou uma só linha nos programas de Obama e Romney.

 

A existirem consequências relevantes para a política europeia na sequência destas eleições, elas advirão por via indirecta – nomeadamente caso se verifique uma recuperação económica e financeira dos EUA (“arrastando” as principais economias europeias), ou surjam eventos internacionais com dimensões globais (por exemplo, uma nova intervenção americana no Médio Oriente, que fizesse escalar os preços do petróleo e questionasse mais uma vez as “posições europeias” em matéria de Defesa e política externa). Todavia, face às interrogações que abalam a própria estrutura económica e política norte-americana, permanece uma incógnita perceber com que futuro Presidente esses ou outros acontecimentos seriam mais prováveis.

 

(artigo publicado no "Região de Leiria", 02.11.2012)


02
Nov 12
publicado por Nuno Gouveia, às 16:37link do post | comentar

As sondagens nacionais neste último mês deram ligeira vantagem a Mitt Romney, enquanto Barack Obama liderou as sondagens em alguns dos principais swing-states. Nos últimos dias, talvez à boleia do efeito Sandy, Obama voltou a empatar a corrida nacional. Atente-se à Gallup: nos últimos 15 dias em que publicou a sua tracking poll, Romney esteve sempre com mais de 50 por cento. Nas sondagens estaduais da Quinnipiac, e não só, Obama tem quase sempre aparecido com vantagem, principalmente no Ohio, Wisconsin e Iowa, três dos mais importantes estados para esta eleição. 

 

Qual é a principal questão relativa a estas sondagens? Elas podem estar todas correctas, mas a diferença é que tipo de eleitorado estão a prever. A maioria parte das sondagens estaduais prevê uma adesão às urnas de democratas semelhante a 2008, enquanto a Gallup prevê que o número seja mais ou menos idêntico entre democratas e republicanos. Em 2004 a percentagem de democratas que votou foi a mesma do que republicanos. Em 2008, numa eleição atípica, Obama conseguiu levar às urnas mais 8% de democratas em relação aos republicanos. Nas eleições intercalares de 2010, os republicanos ultrapassaram os democratas em termos nacionais.

 

Claro que não tenho certezas nenhumas, mas se considerarmos que a verdade estará no meio entre estas duas previsões, os democratas não terão a vantagem que tiveram em 2008, mas também não será equiparada a 2004, quando os republicanos “empataram” com os democratas. Hoje em dia há menores eleitores registados republicanos do que em 2004. Ou seja, pelos dados que tenho recolhido de diversas análises, o saldo final poderá ficar a meio termo, com ligeira vantagem dos democratas, até pelo facto que a demografia das minorias os favorece. Dado que a maioria dos estudos indica que Mitt Romney recolhe a maioria das preferências do eleitorado independente, que em 2008 deu vantagem a Obama em mais sete pontos, acredito que o desfecho destas eleições vai ser ditado pelo tipo de eleitorado vamos ter. Se os democratas representarem 3 ou mais pontos em relação aos republicanos, é provável que  Obama seja reeleito. Mas se a vantagem democrata for menor, e a superioridade entre os independentes que votar em Mitt Romney for significativa, como a esmagadora maioria dos estudos têm apontado, então acredito que este será eleito. 

 

Expectativas das campanhas:


Em 2008 o eleitorado foi composto por 76% de eleitores brancos, 12% de negros, 8% de hispânicos e de 2% de asiáticos, segundo números da Gallup. A esperança para Obama manter uma representação de eleitores democratas que lhe permita vencer, e que tem sido defendido pelos seus estrategas, é que o voto dos brancos irá baixar um ou dois pontos, com ganhos entre as minorias. Como este tipo de eleitorado tenderá a favorecer Obama, pode fazer a diferença e conter maior entusiasmo entre os republicanos. Por outro lado, esperam manter o nível de entusiasmo elevado entre os jovens e as mulheres, que impeça o natural crescimento dos republicanos. 

 

Os republicanos esperam que o maior entusiasmo que as sondagens têm indicado leve um número recorde dos seus eleitores às urnas, esbatendo a diferença de 2008. Por outro lado, se a vantagem nas preferências dos eleitores independentes for grande, do tipo de 5 ou mais pontos, isso poderá inclinar a corrida decisivamente para eles. Normalmente a maioria do eleitorado independente decide o vencedor. Excepção desde 1976? John Kerry, mas que apenas venceu por 1% neste segmento dos eleitores. 


publicado por José Gomes André, às 00:14link do post | comentar | ver comentários (6)

São pouco conhecidos em Portugal, mas muito usados nos EUA. Os mercados electrónicos - verdadeiras bolsas de apostas - reagem em tempo real aos eventos diários e são, por isso mesmo, um excelente instrumento para avaliar a percepção pública acerca do estado da corrida. Embora não estando livres de falhas, são cada vez mais tidos em conta pelos media e operacionais políticos, pois o envolvimento de milhares de apostadores permite corrigir as opiniões improváveis e "reajustar" as probabilidades de forma quase automática. Reagindo às alterações das campanhas, sondagens e outros acontecimentos, estes mercados são um verdadeiro "jogo de expectativas" e a sua fiabilidade em eleições anteriores (de tal forma que chegam na maioria dos casos a "prever" mais exactamente um resultado do que as próprias sondagens) tem sido elogiada por vários estudos académicos.

 

E o que dizem os mercados electrónicos sobre o duelo Obama-Romney? Enquanto escrevo, o mais famoso desses mercados, o Intrade, atribui a Obama 66% de possibilidades de vitória, uma subida interessante face ao que tem sido a tendência geral dos últimos meses (algures entre 58 e 63%, com uma subida de Romney após o primeiro debate). Motivos? Vejo duas hipóteses fortes, possivelmente complementares: 1) os apostadores continuam a achar que Obama tem mais soluções no Colégio Eleitoral, permanecendo favorito em Estados decisivos como o Ohio, Iowa, Wisconsin, New Hampshire e Nevada; 2) os apostadores consideram que pode ser relevante para a eleição o modo como a opinião pública tem reagido positivamente à postura de Obama face à "crise do furacão Sandy" (78% dos americanos elogiam Obama nesta matéria, contra apenas 44% de Romney).


31
Out 12
publicado por Nuno Gouveia, às 14:14link do post | comentar

A credibilidade das empresas de sondagens também vai a votos no dia 6 de Novembro. Várias dúvidas têm sido suscitadas por diversos analistas, principalmente republicanos, mas também independentes, como Mark Halperin ainda hoje o fez no Twitter. O comentador da Time questionou porque razão tantas sondagens continuam a dar vantagem a Obama, quando Romney surge sistematicamente à frente entre os independentes, mas também porque razão têm colocado tantos democratas nas amostras. Exemplo flagrante: na última sondagem da Quinnipiac na Florida, Obama aparece com um ponto de vantagem, mas esta tem +7 Dems em relação a Reps (em 2008 foi +3) e Romney está a ganhar nos independentes por 5%, enquanto em 2008 Obama venceu neste segmento do eleitorado por 7 pontos. No final, Obama derrotou John McCain na Florida por 2 pontos percentuais. Este tipo de resultados tem sido usual em diversas empresas de sondagens, principalmente ao nível estadual, o que indica que preveem que um nível de participação superior do eleitorado democrata em relação a 2008, em muitos casos inferior de republicanos, e que a viragem que Romney conseguiu no eleitorado independente (na Florida, segundo esta sondagem, é uma recuperação de 12 pontos) não será suficiente para derrotar Obama. Algo não bate certo neste tipo de sondagens: ou estão mesmo a dar colocar demasiados eleitores democratas ou as preferências dos eleitores independentes não podem estar correctas. Alguns democratas têm dito que muitos republicanos dizem-se independentes quando na verdade não o são, mas confirmar-se esta acepção significaria que haveria um histórico baixo nível de participação entre os eleitores independentes. Por outro lado, nos últimos ciclos eleitorais, os independentes decidiram a nome do vencedor. Excepção? 2004, quando John Kerry venceu George W. Bush por dois pontos. 

 

Questões para verificar após as eleições: a vantagem da participação eleitoral dos democratas em relação aos republicanos aumentou em relação a 2008? Confirma-se que Mitt Romney irá vencer no eleitorado independente, em alguns estados por margens superior a 10%? Quem foram as empresas de sondagens que mais acertaram? Por exemplo, a Rasmussen no Ohio, que prevê mais ou menos a mesma participação de Reps e Dems, e a Quinnipiac, que prevê uma vantagem de +8 dos Dems (em 2008 foi +7). E em relação às sondagens nacionais; quem acertou? A Gallup e a Rasmussen, que tem dado vantagens consideráveis a Mitt Romney, as sondagens que têm dado empate técnico, como a Pew, Politico ou NPR, ou as quem tem colocado Obama sistematicamente à frente, como a da Investor Business Daily?

  

Estas eleições não se esgotam no dia 6 de Novembro. Além da muito previsível confusão pós votação, com contagens e recontagens ou até a divisão entre voto popular e colégio eleitoral, teremos também que analisar quais foram as empresas mais competentes.

 


30
Out 12
publicado por Nuno Gouveia, às 16:07link do post | comentar

 

Após o desastre do Katrina, os media americanos entram em estado de choque mal se aproxima um furacão. Desta vez não foi excepção, e o furacão Sandy ocupou o espaço mediático nos últimos dias. Barack Obama abandonou por momentos a sua participação na campanha eleitoral e Mitt Romney cancelou diversos eventos. Na Costa Leste, particularmente na Vírginia e Pensilvânia, as acções de campanha estão suspensas, e várias empresas de sondagens, incluindo a Gallup, suspenderam também a publicação de resultados. Que impacto isto terá na eleição da próxima semana? Honestamente duvido que isto venha a ter grande impacto. A corrida segue dentro de momentos. 


25
Out 12
publicado por Nuno Gouveia, às 16:16link do post | comentar | ver comentários (8)

 

O último debate sobre política externa demonstrou o papel quase liliputiano que a Europa representa hoje para os Estados Unidos. Sim, a Europa continua a ser um parceiro comercial e um aliado, mas nunca como nesta campanha os assuntos europeus estiveram tão ausentes. Outrora considerada a região do globo prioritária para os interesses americanos, neste debate nem uma discussão sobre o velho continente, onde até está o seu grande parceiro e aliado no Afeganistão, a Inglaterra. Apesar da crise que afecta grande parte dos países da União Europeia, a única referência veio de Mitt Romney, utilizando a Grécia como um exemplo a não seguir. Isto seria impensável ainda há poucos anos atrás, pois o reforço dos laços com a Europa sempre esteve entre as prioridades americanas. Mas o mundo mudou, e com isso, a Europa perdeu.

 

Não sou especialista em relações internacionais, mas parece-me que a total sua ausência nesta campanha é preocupante. Vários investigadores europeus, incluindo o Henrique Raposo que explicou muito bem o fenómeno no seu livro “Um mundo sem europeus”, têm vindo a destacar o continuado declínio do poder europeu, em contraste com a ascensão da Ásia e de outras potências emergentes. O actual caos que se vive em alguns países do sul, acrescido da falta de liderança nas instituições europeias, tem vindo a acelerar rapidamente este declínio, que nos coloca à margem dos grandes palcos internacionais. Seria bom que a discussão sobre o enfraquecimento europeu começasse a sair da academia e do mundo dos jornais, e entrasse dentro dos gabinetes dos políticos. Para o melhor ou pior, Tony Blair foi o último dirigente europeu que teve verdadeira influência em Washington. De resto, todos os outros são ou foram totalmente irrelevantes para quem está na Casa Branca. E isto passou-se com Obama, mas não tenhamos dúvidas que acontecerá o mesmo com outro qualquer ocupante da Casa Branca, seja ele republicano ou democrata. Estaremos, nós Europa, condenados à insignificância?


20
Out 12
publicado por José Gomes André, às 23:12link do post | comentar | ver comentários (6)

1. Com a aproximação das eleições, multiplicam-se os artigos de opinião, as sondagens, os "memorandos" das campanhas e as notícias eleitorais. Não é difícil ficar à toa perante tanta informação. Recomenda-se prudência na leitura dos artigos opinativos (especialmente nos EUA, onde são francamente imparciais) e na interpretação das sondagens - evitando leituras particulares desta ou daquela sondagem (cuidado com o "cherrypicking"). Os dados mais importantes parecem-me ser as "tendências gerais" das sondagens e as decisões estratégicas (públicas) das próprias campanhas.

 

2. E como estamos nesses dados? Vimos uma corrida estável até ao primeiro debate (com vantagem clara de Obama), momento em que Romney conseguiu projectar a imagem de candidato credível e em que Obama surgiu fragilizado. Desde então, as sondagens mostram uma recuperação de Romney, que conduziu a um empate técnico nos números "nacionais". Romney alargou a sua "área de influência" (Pensilvânia e Wisconsin, por ex.) e a campanha de Obama foi obrigada a concentrar os seus esforços no Midwest (deixando para segundo plano o Sudoeste e Estados como a Flórida e a Carolina do Norte).

 

3. O equilíbrio e a incerteza são a nota dominante, mas neste momento continuo a achar Obama ligeiramente favorito, por diversas razões. Falta um debate que à partida lhe é favorável (foca-se na política externa, um dos pontos fortes da sua Presidência). Obama tem mais soluções no Colégio Eleitoral, nomeadamente porque no Midwest as sondagens resistem à incursão de Romney (vide Ohio, Wisconsin, Michigan e Iowa). Obama beneficia ainda da estupenda organização no terreno que montou em 2008. E os mercados electrónicos (mormente o Intrade), que permitem avaliar a reacção imediata da percepção geral do público aos eventos diários, continua a ver Obama como favorito (61,3%). 

 

4. Dito isto, não se deixem enganar pela cobertura jornalística portuguesa. Esta será uma das eleições mais renhidas da história americana. É que as referidas vantagens de Obama são compensadas por outros dados claramente favoráveis a Romney: a desilusão do eleitorado com as promessas da Administração; o desalento da base Democrata; o entusiasmo da base Republicana; o profissionalismo da "máquina" organizativa do GOP; e uma campanha de Romney "em crescendo". Cuidado com as apostas...!


04
Out 12
publicado por José Gomes André, às 15:35link do post | comentar | ver comentários (7)

1. Um debate presidencial é sobretudo uma encenação mediática, onde o que importa é parecer melhor: mais confiante e assertivo, mais simpático e descontraído, mais bem preparado, mais "presidenciável". A forma ganha os debates, não o conteúdo.

 

2. Face a estes parâmetros, Mitt Romney foi um evidente vencedor. Face a um Obama surpreendemente cinzento, cansado, tropeçando nas próprias palavras, olhando para baixo enquanto ouvia o adversário, Romney surgiu como um orador talentoso, afirmativo, confiante. A sua linguagem corporal (olhando Obama como um predador olha a presa) mostrou um macho-alfa dominador. E as suas permanentes referências a histórias concretas e ao sofrimento do americano comum quebraram a sua imagem robótica, humanizando-o perante o eleitorado. 

 

3. Mas Romney ganhou noutros campos. Contrariando um dos (até aqui) maiores erros da sua campanha, Romney não se limitou a um discurso crítico do Presidente, como se "ser o outro" candidato bastasse para chegar à Casa Branca. Enviou portanto uma mensagem positiva ao eleitorado, insistindo nos méritos do seu próprio programa, focado na criação de emprego e na eliminação das "gorduras do Estado". Enquanto Obama se perdia em detalhes técnicos aborrecidos, Romney defendia o seu projecto político de forma articulada e sintética, sem soar demasiado abstracto.

 

4. Chegará, por si só, para ganhar a eleição? Provavelmente não. Os debates presidenciais são amplamente escrutinados e têm excelentes audiências, mas os dados mostram que a maioria dos eleitores atentos procuram apenas "confirmar" posições previamente definidas, sendo que muitos dos chamados "indecisos" confessam posteriormente à eleição ter prestado pouca ou nenhuma atenção aos debates. Em todo o caso, numa eleição renhida como esta, alterações em pequenas franjas do eleitorado podem ser decisivas. Além do mais, este debate tem desde já o condão de enfraquecer o optimismo reinante entre os Democratas e renovar o entusiasmo Republicano (tanto da base eleitoral como dos financiadores da campanha)...

 

5. Faltam dois debates presidenciais, um debate entre candidatos a vice-presidentes e um mês de campanha. Continuo convencido que Obama é favorito e que Romney, apesar desta boa prestação, tem alguns problemas por resolver - nomeadamente a explicação cabal da revolução fiscal prometida, as alterações na Segurança Social e os cortes nos programas de saúde, temas de grande sensibilidade onde a dupla Romney/Ryan gera grande desconfiança. Todavia, se até aqui os eleitores viam Obama como um "mal menor", a excelente prestação de Romney terá pelo menos generalizado a ideia de que ele pode constituir uma alternativa credível. Conseguir isto em hora e meia é notável.


28
Set 12
publicado por José Gomes André, às 18:35link do post | comentar | ver comentários (1)

É como os americanos chamam ao acto de seleccionar, a partir de um conjunto muito variado, uma sondagem particular favorável ao nosso argumento ou interesse. Assim como, perante uma taça com muitas cerejas, escolhemos as mais apetitosas. O resultado daquele acto é, naturalmente, pouco científico, impedindo uma análise racional sobre a tendência de um determinado evento político.

A cobertura da eleição presidencial americana tem sido marcada por actos constantes de cherrypickingA imprensa continua a divulgar as sondagens que mais interessam à sua narrativa (e já nem falo dos blogues!), esquecendo todas as outras publicadas no mesmo período. Nas últimas semanas, ora surgem referências a vantagens claras de Obama (7 pontos) ora a um empate técnico. Uns preferem as sondagens estaduais para anunciar Obama como o mais-que-provável-vencedor. Outros agarram-se à Rasmussen para descrever uma luta titânica.

 

Tudo isto é verdadeiro. E tudo isto é falso. Estes intervalos são naturais, se pensarmos que há diversas sondagens diárias nos EUA. Com tantos dados, podemos de facto contar a história que quisermos. A imprensa tenderá a narrar uma história emocionante, para manter vivo o interesse da opinião pública, mas uma análise séria deve sempre procurar olhar para a média ponderada das sondagens, a única forma de decifrar afinal a objectiva tendência da corrida.

É menos emocionante, claro. Não é divertido anunciar que a disputa deste ano tem-se mantido relativamente estável, com ligeira vantagem de Obama, reforçada nas últimas semanas, por factores ainda a determinar (eu aposto em Convenção Democrata e erros tácticos de Romney). Com tantas narrativas de altos e baixos, os leitores ficarão provavelmente surpreendidos ao verificar que Obama lidera as sondagens desde Novembro de 2011 (!) (média RCP).


25
Set 12
publicado por Nuno Gouveia, às 20:28link do post | comentar

Hoje ao final da tarde estive à conversa com o Filipe Caetano e o Filipe Ferreira numa versão Hangout do Combate de Blogs. O resultado foi este. Debatemos a (não) questão dos aviões de Romney, e da minha parte, o inusitado destaque que a imprensa portuguesa lhe deu, e as dificuldades por que passa a campanha de Romney. 


05
Set 12
publicado por José Gomes André, às 18:30link do post | comentar | ver comentários (16)

Num excelente post, o Nuno Gouveia considera negativo o facto de os Democratas estarem a dar demasiada importância às questões sociais, nomeadamente o aborto, numa altura em que os americanos estão sobretudo preocupados com a economia. Dou-lhe toda a razão neste último ponto, mas não estou certo quanto à premissa geral de que o tema do aborto seja pouco relevante nesta eleição. Por três razões fundamentais.

 

1) Não é absolutamente rigoroso dizer que "a maioria dos americanos considera-se pro-life". Os estudos da Gallup, realizados desde 1995, mostram que houve na verdade uma maioria de eleitores "pro-choice" durante os anos 1998-2008, tendo-se a situação invertido ligeiramente apenas em anos recentes (2012: pro-life 50%, pro-choice 41). Todavia, ainda em 2011 a sondagem Gallup dava vantagem aos "pro-choice" (49-45%)...


2) Por outro lado, a questão do "aborto" não se joga apenas na dicotomia "pro-life" vs. "pro-choice". Embora ausente do "programa oficial" do Partido, a ideia de que o aborto deve ser proibido em qualquer caso (incluindo violação e incesto) vem sendo defendida publicamente por várias figuras relevantes (Michelle Bachmann, Sarah Palin, Todd Akin, etc.). Ora, esta é uma posição fortemente rejeitada pelo povo americano, sendo apenas defendida por 20% dos eleitores. É pois natural que os Democratas explorem o tema, procurando associar o Partido Republicano a tal visão radical e impopular do aborto.


3) Por fim, uma vez que os resultados no "tópico forte" das eleições (economia e emprego) não são propriamente favoráveis aos Democratas, é lógico que estes irão procurar levantar outros temas como o aborto ou a política externa, descentrando assim o debate. Curiosamente, durante muitos anos foram os Republicanos a usar esta técnica e a apelar justamente a estas questões (vide Bush vs. Gore/Kerry). Ironias da política...


31
Ago 12
publicado por José Gomes André, às 23:29link do post | comentar | ver comentários (5)

Embora extraordinária no aspecto mediático e formal, a Convenção Republicana deixou-me algo perplexo quanto à substância das propostas da dupla Romney/Ryan. Em síntese, os Republicanos propõem reduzir o desemprego, criar 12 milhões de postos de trabalho, revitalizar o crescimento económico, estimular as pequenas e médias empresas, diminuir os impostos aos mais ricos, criar um novo paradigma energético que não dependa da importação de petróleo (limitando contudo a indústria carbonífera e rejeitando igualmente as "energias verdes"), fortalecer o aparato militar (com maior apoio a Israel e um desafio explícito à Rússia de Putin), endurecer globalmente a política externa e reafirmar o poder americano no mundo.

 

Propõem fazer tudo isto sem criar novos impostos às classes médias, nem limitar os gastos militares (em Defesa e Segurança), reduzindo o défice orçamental e diminuindo a dívida pública (nomeadamente a contraída face à China), no meio da maior crise mundial económica e financeira dos últimos 80 anos. Espantoso.

 

Obama foi (justamente) criticado por prometer este mundo e o outro. Mas o que são as propostas de Romney/Ryan senão um programa de intenções absolutamente utópico, tão irresponsável quanto irrealizável?


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