Paul Ryan, congressista do Wisconsin, foi a escolha de Mitt Romney para candidato a Vice presidente. Ryan, de quem ouviremos falar muito nos próximos dias, é considerado um dos líderes desta nova geração de republicanos, tendo apresentado ano passado um plano de combate ao défice que enfrentava de frente os problemas estruturais da despesa federal americana. Se em 2008 os republicanos apostaram no desconhecido (e tiveram azar com Sarah Palin), este ano Mitt Romney apostou no seguro. Ryan tem apenas 42 anos e já está no Congresso desde os 29. Não será uma escolha consensual e certamente receberá muito fogo dos democratas, mas deverá ser uma das grandes surpresas (pela positiva) desta campanha presidencial.
Como ontem escrevi aqui, esta escolha irá injectar uma dose de entusiasmo inacreditável nesta campanha e introduzir na discussão temas como o combate ao défice, a reforma estrutural dos programas sociais e a economia. Apesar de ser uma escolha que agrada à base, há outro tipo de republicanos que vão ficar extremamente satisfeitos. Nos últimos dias, vários conservadores do establishment escreveram artigos a pedir a Mitt Romney para seleccionar Ryan. Na Weekly Standard, Bill Kirstol e Stephen Hayes, aconselharam a escolha de Ryan ou de Marco Rubio, e o Wall Street Journal, esta quinta-feira num editorial, lançou um apelo à selecção de Ryan. Nos meios conservadores, Paul Ryan era, juntamente com Marco Rubio, o nome mais requisitado. Pois bem, Mitt Romney deixou de lado as opções mais convencionais, Portman e Pawlenty, e ambicionou algo mais: mudar radicalmente a campanha desta eleição. Além disso, Romney terá agora mais hipóteses de vencer o Wisconsin, estado onde neste momento Obama tem apresentado ligeira vantagem.
Paul Ryan não é um político qualquer. Tendo começado a sua carreira política a trabalhar em Washington para políticos como Jack Kemp, Bob Kasten ou Sam Brownback, aos 28 anos decidiu deixar os gabinetes do congresso e candidatou-se a um lugar na Câmara dos Representantes. É considerado um dos líderes intelectuais do Partido Republicano e as suas intervenções públicas são habitualmente carregadas de elevação e qualidade. Ninguém espere dele declarações bombásticas. Ficou célebre a sua interlocução com o Presidente Obama durante um encontro na Casa Branca para discutir a reforma de saúde. Actualmente é o líder da Comissão do Orçamento da Câmara dos Representantes. O seu orçamento "Path to Prosperity", considerado um plano corajoso mas arriscado, será o principal ângulo de ataque dos Democratas. Mas Mitt Romney, ao escolher Paul Ryan, saberia disso melhor do que ninguém.
Uma nota: Mitt Romney é considerado um político calculista e pouco dado a opções arriscadas. Diria que, entre as opções "entusiasmo", Ryan era a mais segura. Rubio e Christie estão há muito pouco tempo na arena política nacional e Bobby Jindal tem evidenciado falta de "brilho" nas intervenções públicas. Ao escolher Ryan, um político com quem tem uma química muito forte, Romney está a revolucionar esta campanha eleitoral, está a agradar a base republicana, o establishment de Washington e ainda a aumentar o apelo da sua candidatura no Midwest. Será interessante verificar nos próximos dias a barragem de críticas que vão surgir do lado democrata, mas esta opção não deixa de ser muito estimulante para a campanha.
Em jeito de provocação, o Wall Street Journal dizia esta semana que Mitt Romney não se atreveria a escolher Paul Ryan. "Too risky, goes the Beltway chorus. His selection would make Medicare and the House budget the issue, not the economy. The 42-year-old is too young, too wonky, too, you know, serious. Beneath it all you can hear the murmurs of the ultimate Washington insult—that Mr. Ryan is too dangerous because he thinks politics is about things that matter. That dude really believes in something, and we certainly can't have that. All of which highly recommend him for the job." Bem, certamente já abriram uma garrafa de champanhe na redacção do WSJ.
A apresentação será às 9h00(hora local) deste sábado em Norfolk, onde a dupla irá iniciar um périplo de quatro dias pelos estados da Virginia, Ohio, Carolina do Norte e Florida.