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Jan 12
publicado por Alexandre Burmester, às 16:14link do post

 

 

É recorrente nos comentários - especialmente na Europa - acerca da política americana a afirmação de que o Partido Republicano tem caminhado progressivamente para a Direita. Alguns chegam mesmo a dizer que o partido caíu nas mãos de extremistas. Simultaneamente, o posicionamento ideológico do Partido Democrático é raramente alvo desse tipo de análise.

 

A verdade é que o centro ideológico europeu - mormente no Continente - está mais à Esquerda que o americano. Grosso modo, de um lado do Atlântico temos a Europa do "modelo social" e do outro "a terra da livre iniciativa". Estes diferentes ênfases ocasionam diferentes percepções.

 

Há cerca de um mês a Gallup publicou uma sondagem precisamente sobre o posicionamento ideológico dos americanos e o modo como eles vêm os candidatos presidenciais nessa mesma óptica. Assim, aquela organização pediu aos inquiridos que se classificassem ideologicamente numa escala de 1 a 5, sendo 1 "muito liberal" (em termos americanos, de "Esquerda") e 5 "muito conservador". A pontuação média foi de 3,3, o que permite descrever o eleitorado americano como essencialmente de Centro-Direita. A mesma sondagem solicitava que os candidatos fossem classificados pelo mesmo critério: pois bem, Mitt Romney teve uma pontuação média de 3,5, Newt Gingrich de 3,6 e o Presidente Obama de 2,3. Significa isto que, segundo esta sondagem, o americano médio considera Romney e Gingrich bem mais próximos das suas posições ideológicas que Obama. Ainda de acordo com a Gallup, 57% dos americanos consideram Obama liberal, 23 % moderado e 15% conservador (estes 15% devem estar claramente à esquerda do Presidente!;-)).

 

Estes dados não são surpreendentes, até porque regularmente o número de americanos que se consideram conservadores é cerca do dobro daqueles que se consideram liberais (numa outra recente sondagem, a Gallup apurou 40% de conservadores, 20% de liberais e um pouco mais de 30% de "moderados").

 

Portanto, em parte não será tanto um caso de radicalização do Partido Republicano (embora haja não poucos exemplos disso no partido), mas mais de sintonia com o eleitorado "mainstream".  

 

Já Margaret Thatcher dizia que os bons políticos não governam ao centro ou viram ao centro, antes fazem com que as suas políticas passem a ser o centro, alterando, portanto, o centro de gravidade ideológico. 


"É recorrente nos comentários - especialmente na Europa - acerca da política americana a afirmação de que o Partido Republicano tem caminhado progressivamente para a Direita."

Penso que até os conservadores americanos dizem isso - pelo menos quando os conservadores se põem (em livros, p.ex.) a contar a "sua" história, um tema padrão é "o Partido Republicano estava controlado por liberais, mas pouco a pouco saímos da marginalidade e retomámos o partido".
Miguel Madeira a 28 de Janeiro de 2012 às 22:15

O seu estimado comentário, caro Miguel Madeira, levar-nos-ia longe.

A partir do New Deal e até à chegada de Ronald Reagan à Casa Branca, houve uma espécie de consenso liberal na política americana. Nesse sentido é lógico que os conservadores quisessem reclamar de novo para eles o Partido Republicano, que anteriormente era "seu". Se lermos, por exemplo, Sinclair Lewis, o primeiro Nobel americano da Literatura (1930) em "Main Street", publicado em 1920, poderemos ver que os "cidadãos respeitáveis" votavam no Partido Republicano e iam à igreja ao domingo.

Seja como for, este não é um fenómeno recente, e penso que o G.O.P. está hoje mais próximo da "mainstream" (especialmente em termos de conservadorismo fiscal e política externa e de segurança) que o Partido Democrático. Isto é, aliás, ilustrado, pelo predomínio republicano na Casa Branca desde a primeira vitória de Nixon.

Fundamentalmente, quem virou à direita nos últimos 30/40 anos foi a sociedade americana, ou seja, conforme referi no meu comentário, o "centro" moveu-se para a direita. O Partido Republicano apenas espelhou esse movimento - e o Partido Democrático, nos anos de Clinton e do extinto Democratic Leadership Council também o fez, sob pena de enfrentar uma longa travessia do deserto.

Este predomínio ideológico conservador reflecte-se mais no, de hoje em dia normal, domínio republicano da Câmara dos Representantes, como no período da ascendência liberal se reflectia no perene domínio da mesma câmara pelos democratas.

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