Barack Obama deu hoje uma conferência de imprensa, cujo objectivo foi somente um: ganhar a batalha da opinião pública no combate ao desemprego, promovendo o seu plano, "American Jobs Act". A estratégia de Obama é clara: se a economia não recupera, é preciso arranjar culpados para a situação. E como culpar o antecessor não vai dar resultado na campanha de 2012, é preciso arranjar outro alvo. E os republicanos da Câmara dos Representantes, que têm reafirmado a sua oposição ao plano de Obama, são o alvo preferido.
Por enquanto, Obama ainda não obteve o apoio dos democratas no Senado, que bloquearam esta semana uma votação sobre o projecto. Mas Obama deu sinais positivos aos colegas de partido, que estão contra o aumento de impostos para todos os americanos que ganham mais de 250 mil dólares por ano. Obama parece disposto a aceitar a sua contraproposta, que prevê um aumento de 5 por cento a todos aqueles que ganham mais de 1 milhão de dólares. Se o plano for aprovado pelo Senado, o que ainda não é certo, não passará na câmara dominada pelos republicanos, que já disseram que não irão apoiar um aumento de impostos. Uma posição que também poderá ter custos políticos, pois com o elevado desemprego e a situação económica periclitante, os americanos querem acção por parte do poder politico. Mas quando as ideias são tão diferentes, só mesmo uma eleição poderá resolver este impasse. O problema é que ainda falta mais de um ano e a vida das pessoas não pára. Se os partidos não chegarem a acordo para fazerem alguma coisa, ambos ficarão a perder aos olhos dos americanos.
Este novo Obama que temos visto, especialmente depois do Verão, surge numa altura em que as sondagens indicam uma quebra acentuada de popularidade, especialmente entre os eleitores independentes. Após as eleições intercalares de 2010, deu sinais conciliatórios e em direcção do centro político, nomeadamente na extensão dos Bush Tax Cuts, e nessa altura pensou-se que o Presidente iria seguir uma estratégia retirada da cartilha de Bill Clinton, que após a derrota de 1994, virou a centro e foi reeleito facilmente. Mas nem os tempos são os mesmos nem as dificuldades de Obama são semelhantes. Por isso, Obama optou por guinar à esquerda nesta fase, confrontando directamente os republicanos com um discurso populista contra os ricos e apelando a mais investimento público para salvar a economia. Com isto, consegue injectar energia nos sectores mais à esquerda, que serão fundamentais para as eleições do próximo ano. A dúvida que tenho, e que tenho lido em muita imprensa americana, é se esta estratégia, mesmo que próximo ano volte a direccionar o seu discurso para o centro político, seja a ideal para recuperar estes independentes que entretanto se afastaram dele.