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Jul 11
publicado por Nuno Gouveia, às 17:13link do post

 

As eleições presidenciais de 1972 foram das mais díficeis da história do Partido Democrata. Richard Nixon venceu em 49 estados, perdendo apenas no Massachusetts e DC, conquistando 60 por cento do voto popular, com uma vantagem de 18 milhões de votos, a maior da história americana. A economia viva tempos desafogados, a guerra no Vietname encaminhava-se para o fim e o estabelecimento de relações diplomáticas com a China colocaram a popularidade de Nixon no auge. Mas esta não foi uma campanha isenta de erros de George McGovern, o nomeado do Partido Democrata.

 

Senador do Dakota do Sul desde 1963, McGovern candidatou-se pela ala anti-guerra do Partido Democrata, que tinha sido derrotada em 1968 pelo então Vice-presidente Hubert Humphrey. Mas em quatro anos o panorama político tinha-se alterado, e com a introdução da reforma McGovern-Fraser, liderada pelo próprio senador, o processo de nomeação deixou de ser controlado pelos líderes partidários e passou a ser decidida quase exclusivamente pelo voto popular, através da introdução de primárias e caucuses na maior parte dos estados. Pode-se dizer que a vitória de McGovern nas primárias de 1972 foi a primeira conquista de um movimento popular contra o establishment partidário. Como em 1980 com Ronald Reagan e em 2008 com Barack Obama.

 

McGovern era um dos senadores mais à esquerda, que se tinha distinguido no final da década de 60 pela sua oposição à guerra do Vietname. Nestas eleições, McGovern enfrentava figuras bem mais relevantes do Partido Democrata, o favorito senador do Maine Edmund Muskie (mais tarde Secretário de Estado de Carter) e Hubert Humphrey, o nomeado de 1968. Apoiado pelos movimentos anti-guerra e pelos sectores mais à esquerda do partido, McGovern foi nomeado como candidato Democrata. A sua campanha era descrita pelos adversários, mesmo internamente, como "amnesty, abortion and acid*", pela defesa da amnistia aos que tinham fugido do recrutamento para o Vietname e da legalização do aborto e das drogas. Dentro das fileiras da sua campanha incluíam-se jovens figuras que viriam ter um papel decisivo na vida do Partido Democrata nas próximas décadas. Gary Hart era o director de campanha e no Texas, as operações foram lideradas por um casal que viria a dar que falar: Hillary e Bill Clinton.

 

Os problemas na sua campanha começaram duas semanas depois da Convenção em que foi nomeado. O seu candidato a Vice-presidente, Thomas Eagleton, senador do Missouri desde 1968, tinha sido uma quinta escolha, depois de várias recusas que McGovern tinha recebido. Como Nixon parecia imbatível, nomes relevantes como Ted Kennedy, Humbert Humphrey, Walter Mondale ou Edmund Muskie recusaram o lugar. Depois de tantas recusas, McGovern acabou por seleccionar Eagleton sem mandar fazer uma investigação cuidada ao seu passado. Surgiram notícias que Thomas Eagleton tinha problemas médicos que o poderiam impedir de ocupar a presidência. Apareceram relatórios médicos que incluíam palavras como "depressão", "tendências suicidas" e "maníaco-depressivo" e que revelavam que tinha recebido tratamentos de choque eléctricos. Inicialmente McGovern, que tinha uma filha com problemas idênticos, apoiou publicamente o seu candidato, mas depois de semanas a ser pressionado pelos conselheiros, pediu a Eagleton para demitir-se. Depois de mais algumas recusas, acabou por convidar Sargent Shriver, cunhado de John F. Kennedy, que na época era embaixador em França. Mas a campanha nunca mais de recompôs.

 

Este episódio acabaria por marcar negativamente uma campanha já em sérias dificuldades. Depois de várias semanas a jurar fidelidade a Eagleton, a sua mudança de opinião acabou por enfraquecer a sua credibilidade. Além do mais, sofreu bastante por afrontar o poder da máquina do Partido Democrata, naquilo que foi uma verdadeira revolução na forma como os partidos escolhem os nomeados, o que viria ser imitado pelo Partido Republicano. Além das várias recusas que recebeu para VP, acabou por ver muitos proeminentes democratas, como o antigo governador do Texas e membro da Administração Kennedy, John Connaly, apoiar Richard Nixon, na organização que ficou conhecida como "Democrats for Nixon". E nem o escândalo Watergate, que rebentou de maneira frágil no Verão de 1972, o ajudou a impedir uma das maiores derrotas da história do Partido Democrata.

 

*Amnesty, Abortion and Acid" apareceu pela primeira vez pela pena de Robert Novak, um colunista conservador que garantia estar a citar um senador democrata. Mais tarde viria a revelar que quem lhe disse essa frase foi Thomas Eagleton, antes de ser escolhido por McGovern para seu candidato a VP.


Caro Nuno,
Qual para si foi, até este momento, a campanha mais emocionante que os EUA alguma vez tiveram?
Qual no seu entender foi o pior presidente dos EUA?
Qual o derrotado mais bem preparado para ir morar para a casa Branca?
Só existem dois partidos nos EUA? Um pais tão grande e com muitos milhões só tem dois partidos? Aqui em portugal só somos 10 milhões e temos 13 partidos.
André a 30 de Julho de 2011 às 08:55

Das que conheço, talvez a vitória de Reagan em 80 ou a de Obama em 2008.

O sistema político americano sempre foi bi-partidário. Mas há muitos mais partidos, não têm é expressão nenhuma, além do próprio sistema os prejudicar imenso.

O pior Presidente, ou pelo menos o mais citado pelos historiadores, é James Buchanan, o antecessor de Lincoln, que levou o país à guerra civil.
Nuno Gouveia a 31 de Julho de 2011 às 20:06

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